sexta-feira, 18 de março de 2011

Como transformar um país em piada



Enquanto o mundo volta a atenção para o Japão com piedade e preocupação, no Brasil, o desfile de encerramento do Carnaval levou mais de 500 mil pessoas para o centro do Rio de Janeiro, neste domingo. Segundo o site de notícias do iG, “o desfile começou por volta das 9h. No repertório, composições que transitaram do samba ao funk. Ao todo 12 blocos programaram seus desfiles para este domingo, entre eles, o Galinha do Meio-Dia (zona sul), Vai Tomar no Grajaú e Quem Vai, Vai, Quem não Vai não Cagueta (ambos na zona norte). Nesta segunda-feira (14), a prefeitura apresenta o balanço geral do carnaval carioca, que, de acordo com a Riotur, teve recorde de foliões nas ruas e turistas na cidade”.

Foram às ruas comemorar o fim do Carnaval e não se dão conta de que quem está no fim é este mundo...

Quem assistiu ao programa especial “Tragédias”, da TV Novo Tempo, na tarde de sábado (possivelmente haverá outro especial na próxima sexta-feira), pôde constatar por meio das enquetes feitas nas ruas de São Paulo que o povo de modo geral anda tão desapercebido que não se dá conta do tempo em que vivemos. Alguns chegaram até a afirmar que os terremotos são causados pelo ser humano! Outros não veem relação entre essas tragédias e a volta de Jesus. Curiosamente, há até cristãos tentando tapar os sinais com a peneira do ceticismo, afirmando que “terremotos sempre existiram”. Sim, abalos sísmicos sempre existiram (pelo menos depois do dilúvio), mas a frequência e intensidade deles nos últimos anos assusta – mesmo aqueles que creem na revelação de Mateus 2:7.

Antes de o dilúvio subverter a face da Terra, homens obstinados também tentaram racionalizar as predições divinas. Ellen White escreveu: “O mundo antediluviano raciocinava que durante séculos as leis da natureza tinham estado fixas. As estações, periódicas, tinham vindo em sua ordem. Até ali nunca havia caído a chuva; a terra era regada por uma neblina ou orvalho. Os rios jamais haviam passado os seus limites, mas com segurança tinham levado suas águas para o mar. Imutáveis decretos tinham impedido as águas de transbordarem. Mas tais raciocinadores não reconheceram a mão dAquele que conteve as águas dizendo: ‘Até aqui virás, e não mais adiante’ (Jó 38:11)” (Patriarcas e Profetas, p. 96, 97).

A verdade é que quase ninguém mais fala do tsunami que varreu a Ásia em 2004. Pouco se comenta sobre a mortandade causada pelo terremoto no Haiti, no ano passado, e dos estragos causados pelos terremotos no Chile. E daqui a pouco a tragédia ocorrida no Japão também será história (exceto para os familiares das milhares de vítimas e para os desabrigados e traumaizados). Assim é o ser humano: tenta viver a “normalidade” num mundo anormal. Assim aconteceu também com os antediluvianos: “Passando-se o tempo, sem qualquer mudança aparente na natureza, os homens cujo coração tinha por vezes tremido pelo receio, começaram a refazer-se. Raciocinavam, como muitos fazem hoje, que a natureza está acima do Deus da natureza, e que suas leis são tão firmemente estabelecidas que o próprio Deus não as pode mudar” (Ibidem, p. 97).

Vou repetir a estrutura textual com a qual comecei esta postagem: enquanto o mundo voltou a atenção para os países árabes nos quais multidões foram às ruas para exigir mudanças políticas e maior liberdade, no Brasil, além da festa de encerramento do Carnaval, chamou a atenção da mídia a “pedalada pelada”. Mais de 200 ciclistas participam do evento nas ruas de São Paulo, na noite de sábado (12). A manifestação reuniu homens e mulheres. Eles pedalaram nus, com roupas íntimas, em trajes de banho ou com os corpos pintados, e pediram melhores condições para o uso de bicicletas no trânsito da capital paulista. O que queriam? Chamar mais atenção do que os tsunamis? Competir pelo espaço nos noticiários? Que momento mais inapropriado! Que maneira mais baixa de atrair as câmeras (embora o motivo até possa ser justo)!

Carnaval e nudismo. É isso que temos a oferecer? Anestésicos e piadas, enquanto o mundo desaba ao redor? Depois reclamamos pelo fato de este país nem sempre ser levado a sério.

Chega de viver de maneira irrefletida. Chega de manter a ilusão de que o mal e as tragédias sempre existiram, então “tudo bem”. Chega de distrações como Carnaval, novelas, BBBs e outras banalidades não raro imorais. Precisamos acordar e já! Precisamos de um reavivamento e uma reforma urgentes. Jesus tem pressa de voltar.

Michelson Borges

P.S.: Não estou sozinho em minha indignação contra a futilidade do Carnaval. Assista ao comentário corajoso e oportuno da jornalista paraibana Raquel Sherazade.

Poderá também gostar de:

O domingo sempre foi dia de descanso. FALSO


A adoção do domingo como dia de repouso (obrigatório em países como a França) tem um fundamento bíblico. De acordo com o Livro Sagrado, "Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou" (Gênesis 2, 2) [considerar o domingo - primeiro dia da semana - como sendo o sétimo é erro banal, mas prossiga na leitua desta matéria publicada na revista História Viva]. A própria etimologia da palavra evidencia esse sentido: “domingo” deriva do latim dies dominicus, ou "dia do Senhor". Os primeiros cristãos tanto respeitavam o descanso que o judaísmo reserva ao sábado quanto celebravam o dia seguinte, tido como data da ressurreição de Cristo. A Igreja, ainda em seus primórdios, já proclamava a obrigação de assistir às missas no sétimo dia, embora não contasse com nenhum respaldo legal. A situação se alterou quando o imperador Constantino, em 321, fixou o “dia do Senhor” como feriado no Império Romano. Na prática, porém, a obrigação de comparecer às atividades religiosas se impôs muito mais que o direito ao repouso semanal.

No século XVIII, os filósofos iluministas chegaram a desenvolver toda uma argumentação para enaltecer as vantagens do trabalho aos domingos. De acordo com o artigo que a célebre Enciclopédia dedicou ao dia, determinada comunidade se beneficia quando suas atividades econômicas não são interrompidas no “dia do Senhor”. Anos mais tarde, durante a Revolução Francesa, o tradicional calendário gregoriano foi suprimido e substituído por um novo, que instituiu a semana de dez dias e, seguindo a política de erradicação de qualquer referência religiosa, eliminou o domingo. O antigo calendário foi restabelecido somente em 1806, sob o governo de Napoleão [há quem diga que o povo não suportou a semana de dez dias, pois o ser humano foi projetado para funcionar num ciclo de sete dias].